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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Ururau da Lapa

Quando eu era menina tinha muito medo do Ururau da Lapa. Conta a lenda que a filha de um coronel muito rico se apaixonou por um cortador de cana muito pobre. Nos idos de 1786, o senhor das terras tudo podia. E resolveu dar um fim àquele amor jogando o rapaz no rio Paraíba do Sul, bem em frente ao Convento da Lapa, onde o rio faz uma curva e dá à cidade de Campos dos Goytacazes uma de suas mais belas paisagens.
Desde aquele tempo, as freiras do Convento prestam um belo trabalho à comunidade vizinha. Elas são da congregação das Carmelitas e dedicam-se, principalmente, ao cuidado de meninas órfãs, algumas até abandonadas na porta da igreja. Ensinam a leitura, os números, a costurar, a bordar, levam médicos e dentistas voluntários aos que não têm como procurar esses serviços. Cuidam das meninas precocemente grávidas. Cuidam dos órfãos abandonados em sua porta.
Mas voltemos à lenda!Dizem que o Deus das Águas indignado com a violência resolveu transformar o rapaz num enorme jacaré de papo amarelo, o Ururau. Só que um amor contrariado causa desvarios. Louco de saudades, nas noites de lua cheia, o Ururau vinha até a beira do rio tentando encontrar sua amada. E como não a via, acabava por levar uma das meninas que se abrigavam no Convento. As freiras, desesperadas, tendo ouvido dos pescadores a causa de tantas perdas, foram procurar o senhor malvado, que confessou seu pecado e prometeu em penitência mandar vir de Portugal um sino de ouro para o Convento.
Quando o navio se aproximava do porto, o imenso jacaré estraçalhou o navio e levou o sino para o fundo do rio evitando assim o perdão de seu algoz. Daí, nas noites de lua cheia, quando se ouvia o sino, uma das meninas sempre se ia com o Ururau.
Dizem que ele até hoje toma conta do sino. Mas hoje já não tenho medo do Ururau. Tenho medo das águas do rio tão sujas e poluídas. Pobre rio Paraíba, agonizante! Em suas águas já se derramaram tantos resíduos tóxicos de mineradoras que o jacaré já deve ter-se desintegrado como os peixes que morreram na superfície. Só não deve ter aparecido seu corpo porque está escondido sob o sino. Que também já deve estar corroído.
Crianças têm medo de lendas. Adultos têm medo do mal que o homem faz à natureza tão dadivosa e indefesa.
O Ururau da Lapa hoje é o próprio rio Paraíba do Sul.

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